terça-feira, 26 de março de 2013

Desmetaforizando: Índios - Legião Urbana


“Índios” é uma das minhas músicas preferidas do Legião Urbana e a escolhida para o post Desmetaforizando da vez. Escolhi apenas algumas estrofes porque a música é muito grande e daria assunto para mais de um post.

Dia 03 de Maio estreia “Somos tão jovens” nos cinemas.

Dá para perceber a Legião Urbana ao compor essa música estava movido por um daqueles momentos de descrença que todos nós já experimentamos um dia. Aqueles que ficamos temporariamente desacreditados na existência da amizade verdadeira porque alguém traiu nossa confiança; temporariamente desacreditados no amor porque saímos com o coração despedaçado do último relacionamento e desacreditados do mundo com tanta maldade e egoísmo dos seres humanos.

“Índios” representa, não a descrição dos nativos que Cabral e sua navegação encontraram e se relacionaram ao pisaram em terras brasileiras, mas nossa relação com eles, enquanto seres ingênuos que somos e como eles eram vistos. “Índios” representa a nossa condição de enganados, usado pelo outro que busca, antes de qualquer coisa, servir aos seus interesses.

Quase todos os versos começam com “Quem me dera ao menos uma vez...” que carrega um sentimento de incapacidade para reagir diante de algo que parece ser maior e mais forte do que nós e mudá-lo. “Quem me dera” ter a oportunidade, mas não tenho, é algo que está além do meu alcance e fico aqui “sangrando”, remoendo porque quando a gente passa por maus bocados é difícil acreditar que as coisas se tornarão mais fáceis e simples.

Quem me dera ao menos uma vez
Ter de volta todo o ouro que entreguei a quem
Conseguiu me convencer que era prova de amizade
Se alguém levasse embora até o que eu não tinha.

Imagine só: damos o melhor que temos, o nosso “ouro” para alguém, seja ele um amigo ou um amor, em nome do relacionamento e, de repente, isso já não é mais suficiente. Não temos mais nada, mas ela continua querendo tirar mais e mais. Quando vemos, não sobrou sequer quantidade suficiente de amor próprio e quem nos dera ter tudo de volta. “O ouro brasileiro deixou buracos no Brasil, templos em Portugal e fábricas na Inglaterra.” (Eduardo Galeno). Foi o que essas pessoas fizeram: deixaram buracos em nós enquanto construíam templos dentro delas.

Quem me dera ao menos uma vez
Esquecer que acreditei que era por brincadeira
Que se cortava sempre um pano-de-chão
De linho nobre e pura seda.

Quem nunca ouviu que quem tem muito, quer sempre mais. Pois é. Muito não é o suficiente e dai volta a ideia do “tirar” da primeira estrofe. A pessoa deseja aumentar suas riquezas e tirar do outro, passar por cima dele, é uma forma de fazer isso. O jeito mais fácil e mesquinho.

Quem me dera ao menos uma vez
Ter de volta todo o ouro que entreguei a quem
Conseguiu me convencer que era prova de amizade
Se alguém levasse embora até o que eu não tinha.


Quantas vezes as coisas mais simples são deixadas em segundo plano? São subestimadas? Mas com o passar dos dias percebemos que são elas que fazem diferença em nossas vidas e essa busca implacável por “riquezas”, nos deixa doentes, pela falta do que é realmente importante. O mundo adoece aos poucos.

Quem me dera ao menos uma vez
Acreditar por um instante em tudo que existe
E acreditar que o mundo é perfeito
E que todas as pessoas são felizes.

As coisas não seriam mais fáceis se acreditássemos que não há maldade nem tristeza no mundo e que podemos confiar de olhos fechados nas pessoas? Com certeza! Mas pensar assim é utopia, a miséria humana está bem debaixo do nosso nariz.

Quem me dera ao menos uma vez
Fazer com que o mundo saiba que seu nome
Está em tudo e mesmo assim
Ninguém lhe diz ao menos, obrigado.


Às vezes fazemos muito pelas pessoas e pelo que existe ao nosso redor, construímos pontes e asfaltamos estradas – no sentido figurado, especialmente - , mas ninguém ao menos reconhece. Ninguém diz ao menos obrigado a quem está por trás disso. Um exemplo disso são as tribos indígenas atuais e a relação das autoridades diante dos direitos delas sobre suas reservas. Eles são a origem de nós e de tudo o que nos ronda. Eles cuidam da terra e da natureza, enquanto os engravatados estão no Congresso descuidando do dinheiro público.

Quem me dera ao menos uma vez
Como a mais bela tribo
Dos mais belos índios
Não ser atacado por ser inocente.


Aqui explicita um pouco mais a ideia do noema da música. As pessoas se aproveitarão da nossa inocência, como “a mais bela tribo dos mais belos índios” seremos atacados e descobriremos que somos ingênuos demais para esse mundo em que vivemos. Queremos paz enquanto eles querem guerra.


O que acharam? Qual a interpretação de vocês? Sentiram falta de algum outro parágrafo?


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...