quarta-feira, 20 de março de 2013

Segunda temporada

Por favor, me diz, cadê você? Não, eu não quero saber quais lugares costuma frequentar para colocar o meu melhor vestido e inventar uma esbarrada ocasional por lá ou dançar feito uma louca que não sabe se virar sem você. Não quero pagar um drinque para nós dois, enquanto tento te convencer que voltar para mim seria a sua melhor escolha. Você sabe que eu não bebo. Não quero saber qual é seu número, se ele ainda é o mesmo, se tem um novo ou com quem anda saindo. Não é isso. Não é nada disso. Eu estou bem, juro. Quero apenas te encontrar outra vez, mas aqui em minha casa, no meu quarto, deitada na cama em meio a tantas fotos que resgatei de uma caixa escondida no fundo do meu armário esses dias. A saudade bateu. Eu esqueci de apagar o lembrete do nosso aniversários de namoro do celular.

É janeiro, não há aniversário de namoro. Sequer nos vemos mais. Mas aqui estou eu, querendo trazer todas as lembranças de volta a vida. Reprisando todos os capítulos de uma série que não teve segunda temporada. Vamos lá, talvez você me entenda. Quero assistir a história outra vez pra tentar sentir exatamente tudo aquilo que senti da primeira. Mas não bate aqui na porta da minha casa, se estiver ouvindo de alguma forma esse meu pedido inconsciente por você. Não me liga, você sabe que meu número ainda é o mesmo. Desculpe se me entendeu errado, não te quero aqui em carne e osso. Já disse, estou bem sem você. Pelo menos é o que eu comecei a tentar um ano atrás. Só quero satisfazer esse meu capricho de te sentir aqui, com todas as lembranças que tenho direito. Pela última vez, antes de me desfazer de tudo, porque foi bom, entende? Quero te encontrar nas músicas que eu costumava ouvir, nos filmes que assistimos ou que assisti sozinha lembrando de você, nos livros de romance que eu lia enquanto escrevíamos  a nossa história de amor. Quero namorar todas essas coisas hoje. Coisas que nem me lembrava mais e me arrancaram tantos suspiros e lágrimas e risos há pouco tempo atrás.


Conte-me em qual música eu te encontro. Você e seus cabelos castanhos, seu nariz pequeno, seus lábios finos e rosados, vestindo naqueles moletons grandes e caíam tão bem em mim quanto em você, quando eu os vestia. Me diz, você tem alguma mídia gravada com todas as músicas que compunham a nossa trilha sonora? Me ajuda a lembrar, qual era mesmo a faixa que me fazia chorar só de pensar que um dia podia te perder? E aquela, qual era mesmo aquela que eu ri tantas vezes enquanto escutava, lembrando do seu jeito atrapalhado? A música que dançamos juntos e sozinhos em seu quarto, qual era? Havia música ou era você quem cantava pra mim? Eu não lembro. Passei todas as faixas mp3 que estavam no meu celular, mas não foi nenhuma delas. Será que exclui, apaguei quando você foi embora? Tantos livros em minha estante, tantos títulos que me perco. Em qual te encontro? Em qual costumava encontrar nós dois nas imagens que se formava em minha mente enquanto lia? Na nossa história, qual foi o início, onde foi o nosso primeiro encontro? Em quais páginas foram o clímax, as vezes em que meu coração disparou, senti borboletas voaram?

A campainha toca. Claro, é você. Nossos olhos se encontraram e parece que nossos corações decidiram se encontrar de novo também. A cena se repete. Porque? Não era para você voltar, te avisei. Deu trabalho tentar esquecer todas as coisas que me faziam lembrar de quando éramos dois. Deu trabalho me acostumar com a sua ausência. Devolvi tudo o que era seu e estava comigo, há um ano trás. Então, me diz, que diabos você veio fazer aqui ás nove horas da noite? Não te liguei, não te gritei, não pedi por telepatia para você vir. Ou pedi? Aí você me olha e diz que deixou  um monte de coisas comigo. Eu digo que não. Você insiste. Eu me calo. Deixou a tranquilidade em que repousava nos momentos difíceis, deixou a leveza que costumava compor os dias, deixou o riso fácil, o encaixe das mãos. E quando te perguntam como está o coração, a única coisa que pensa é em me ligar para perguntar, porque, de alguma forma, esqueceu ele comigo. E pede desculpa. Aí eu me lembro de tudo. Click. Como se a sua presença fosse a chave certa para abrir as minhas lembranças. Não houve final, agora eu sei, há ainda muita história para esse nosso livro. Dois moletons. Um é o que você veste, o outro é seu de presente pra mim. Pode entrar. Já vai começar a segunda temporada, só faltava você. Por que não me ligou antes?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...