terça-feira, 16 de outubro de 2012

O quadro branco em minha frente




 
Não consigo concentrar no quadro branco em minha frente. A caneta já não acompanha mais as letras que se formam com o piloto nas mãos do professor, mas misturam-se com meus pensamentos no papel e eu passei a ter que usar corretivo. Andei sorrindo do nada e continuei sorrindo. Estamos na mesma sala, mas nada muda o fato de que sinto sua ausência. Mesmo com o riso reconhecido, o som da voz que conversa baixinho com os amigos e em seguida toma toda a sala com uma resposta ou dúvida direcionada ao professor, ainda assim, não parece que você está ali. Não como deveria estar. Comigo.

A cadeira sendo erguida para não provocar nenhum barulho e colocada com cuidado ao meu lado por dias seguidos. Um dos braços levantando e sendo posto com cuidado em volta da minha cintura, enquanto o outro acaricia meu rosto, deslizando em seguida para as minhas mãos e pegando-a tão firmemente, me fazendo acreditar que deveria significar alguma coisa. Essa era a rotina, ainda que curta, de alguns meses atrás. Quando paro para lembrar, abril não parece que foi um mês, mas talvez um ano. É isso que as lembranças costumam fazer, tornar tudo mais doloroso ou mais prazeroso de ser lembrado, de forma mais doce ou mais amarga do que foi.

Ao meu lado eu já tenho a certeza de que não estará. Olho para trás e não encontro mais seus olhos preparados para apreciar qualquer movimento meu. Deslizo minha mão sobre meu próprio braço cruzado, subindo e descendo-a insegura: será que fiz algo errado? As reticências surgiram do nada e eu tento entender como não as vi se formando. Poderíamos ter tido tempo para mais sorrisos, mais carinhos, mais brincadeiras sem graça, puxão de cabelo, de orelha e puxão de braço. Mas talvez a culpa tenha sido sua, por não ter sido verdadeiro, ter fingido e dito coisas que não deveria. As notícias circulam rápido demais,  há muita gente pronta pra fazer com que isso aconteça a uma velocidade assustadora, não por se preocuparem, mas por não se importarem com os sentimentos de ninguém.

Por mais que eu negue, por vezes me encontro desejando ter a oportunidade de viver  além dessas reticências e me assusto. Saber como tudo seria, se seria e se haveria, se beijaria, amaria, ficaria e daria certo. Eu queria. Mas abro os olhos, olho para frente e é só o quadro branco que vejo.


2 comentários:

  1. Que texto lindo, você é muito boa amei!
    http://retratandocoisas.blogspot.com.br/

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  2. Obrigada!! Ouvir isso me deixa mega feliz *-*

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