sábado, 16 de março de 2013

Estreia do Desmetaforizando




O texto escolhido para estrear o Desmetaforizando foi o poema Versos Íntimos de Augusto dos Anjos. Quem já estudou ou está estudando o movimento literário Simbolismo na escola, deve ter ouvido falar no autor, um dos grandes nomes da poesia brasileira e o mais original poeta da literatura mundial. Versos Íntimos e Psicologia de um vencido são seus poemas mais conhecidos - e mais debatidos em aulas de Literatura - e fazem parte da sua única obra chamada "Eu" ou "Eu e outros poemas".

Augusto dos Anjos é conhecido pela sua visão pessimista, que às vezes chegou a ser vista como "beirando o mal gosto", com preferência a temáticas ligadas à morte e poesias carregadas de termos científicos. Alguns o caracterizam de simbolista, mas convém situá-lo entre os pré-modernistas por ser representante de uma experiência única na literatura universal que é a união do Simbolismo com o cientificismo naturalista e até mesmo o Parnasianismo.

Lendo o poema, vocês vão perceber a visão existencial dramaticamente angustiante do autor. Se formos analisar o seu passado, diversos momentos da sua vida poderiam ter dado razões para essa visão. Quando criança, Augusto começou a mostrar uma saúde delicada e aí nós podemos imaginar como sua infância não deve ter sido comum. Quando mais velho e casado, morreu o seu primeiro filho de forma prematura e, com um pouco mais de trinta anos, ele morre vítima de pneumonia.

Há boatos que ele tenha escrito esse poema minutos antes de morrer. Sozinho em casa, teve um ataque de tosse devido a sua saúde fragilizada e começou a escarrar muito sangue. O sangue formou uma poça no chão, ele pegou a pena e a encheu desse sangue como tinta, pegou um pedaço de papel e depois começou a escrever, inspirado, a poesia.

Vês! Ninguém assistiu ao formidável

Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera – 
Foi tua companheira inseparável!

O formidável enterro ao qual se refere o autor é a morte de um sonho, uma fantasia, um desejo e ao qual só resta para o antigo sonhador, a solidão. A Ingratidão de que fala é a do outro e que torna-se a nossa "companheira inseparável", uma vez que as pessoas, segundo ele, nos abandonam nos momentos mais críticos e difíceis de nossas vidas.


Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Pode ser sintetizado na máxima determinista de que o homem é produto do meio, uma das principais características do Naturalismo. A inclinação de ser fera numa terra cheia delas. A derrota, o momento crítico apresentado no primeiro verso, chegará para todos. A lama nos espera, espero o que se é enterrado, seja um sonho ou uma pessoa no seu íntimo.


Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.


A primeira linha é como se o próprio Augusto estivesse conversando com você e dissesse: "Relaxe. Pega aí um cigarro, fume um pouquinho e deixa eu te falar uma coisa: não confie em ninguém". Ninguém. Um hora podem estar com você, rindo e agindo como se fossem seus amigos, mas segundos depois, te apunhalarão pelas costas. Uma visão realista, porque é realmente algo que estamos suscetíveis, enquanto seres sociais, mas um bocado pessimista, uma vez que generaliza, não é?


Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!


Vão te apunhalar pelas costas, é? Então, antes que você diga "até tu, Brutus?", apunhale-os primeiro. Faça com os outros antes que eles façam com você, porque não importa se eles fazem coisas boas agora, uma hora mostrarão suas verdadeiras intenções. Ninguém é confiável, lembra?


Depois dessa, uma dose de otimismo, por favor.


P.s: o próximo post da categoria será uma música e já posso adiantar que é de Legião Urbana ( uma das minhas preferidas s2 haha). Vai ser mais divertido, mas espero que vocês tenham gostado desse!

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