terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Resposta pra tudo




Disse pra mim que sente saudades e apenas isso bastaria. Não precisava falar mais nada para me fazer acreditar que ainda há um pouco de mim em você. Alguma marca ou algum pensamento. Se eu me lembro bem (e eu lembro), você nunca foi um homem de poucas palavras nem eu alguém que gostasse de ouvir pouco. Esse sempre foi o meu maior ponto fraco. Você já me pôs na corda bamba antes e, talvez por força de um hábito que eu pensei ter substituído pelo de acreditar em você, questiono se é mesmo verdade o que diz. Não há nenhuma plateia, não há olhos curiosos esperando pela próxima encenação, mas você sabe que eu nunca fui muito boa em separar o que é real do que era apenas fantasia da minha cabeça.

Podia ficar sentada de frente pra você durante horas sem pronunciar uma só palavra. Tentei, mas não consegui distinguir muito bem se, no final, era eu quem lia seus pensamentos ou você, os meus. Era o primeiro a quebrar o silêncio e deixei que fosse o último a falar também, mas isso nunca me trouxe certezas sobre o que estava conhecendo. Agora vejo que você decidia o rumo das conversas, como se elas já tivessem sido passadas e repassadas na sua mente pra conseguir tirar as informações que poderiam servir a um próximo passo. O que eu pensava ser confundia-se com o que eu não imaginava que era e me pego até hoje tentando entender o que foi. Me ter pra sempre era o seu próximo objetivo.

Aqui estamos, frente a frente e você, assim tão calado, parece meio confuso, parece desarmado. As coisas talvez tenham tomado outro rumo, diferente daquele que imaginara e eu não posso ajudar porque nunca soube o que realmente queria. Poupando palavras e contendo gestos, é assim que seguimos o nosso rápido reencontro. Mal sei o que dizer, nunca soube direito. Na verdade, torci para que você estivesse no comando da nossa conversa, me guiando, como costumava ser. Parece que chegou a minha vez e nem sei por onde começar. Um "oi" ou "tudo bem"  talvez, mas e depois? Tinha que chegar em algum lugar e chegar até seus olhos seria o suficiente se você não os mantivesse desviados de mim.

- Desculpa, tenho que ir embora.

Foi o que você disse. Eu quase o deixei ir sem dizer nenhuma palavra e teria sido melhor do que consentir dizendo "até mais", como nas vezes anteriores. Você acenou um provável adeus hesitante ao olhar pra trás, esperando mais de mim. Acho que todo o problema foi em eu nunca ter segurado firme suas mãos e tê-lo deixado ir quando vi que era isso que faria. Não se tratava de ir embora ou ficar, se tratava de ter razões para repensar, coisa que nunca te dei. Estive muito ocupada tentando entender tudo que acontecia, quando só o que precisava era viver tudo o que entendia e sentia entre nós dois.

Alguma coisa começa a se mexer aqui dentro. Espero que não seja nada que possa criar asas e voar, não sou mais forte o suficiente para me manter longe do chão. Quero ter poder sobre o que cresce dentro mim e não faz sentido esse sentimento crescer, assim, agora. Só que não quero ter certezas quando se trata de você. Elas sempre me levaram para os caminhos errados, aqueles que me mantinham distantes, por achar que nunca poderia estar enganada ou errada sobre o que costumava acreditar. Quando eu gostava, você gostava também; quando eu sorria, éramos nós dois sorrindo juntos e quando você foi embora, só uma asa ficou. Como, me diz, como vou voar, se a outra asa quem me dava era você? Volta aqui e me responde. Por favor, volta e responde, estou pedindo. Eu sei, logo eu que pouco falava, mas tinha sempre alguma resposta pra tudo.

2 comentários:

  1. Lindo texto. Parabéns!

    É de sua autoria?

    Beijos, Romário.
    www.naomeentendamal.com.br

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  2. Obrigada *-*
    Sim, Romário, é de minha autoria - assim como os outros já postados.

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