quinta-feira, 7 de março de 2013

Um imigrante ilegal






Adeus, foi o que você me disse. Adeus, porque iria viajar para outro país e talvez até, outro mundo. Em razão da alegação do último destino, me perguntei o que você queria dizer e se realmente disse o que achei que significava. Era só uma metáfora. Não era? As malas, nunca te vi arrastando-as para fora de casa e depois carregá-las para dentro do táxi que te esperaria com destino ao aeroporto. Não, você não viajou, continua nessa mesma cidade, nesse mesmo lugar, desde 2009. Eu também não viajei, balbucio, mesmo sabendo que não se importa. Da janela da sala de estar, observo a porta da sua casa, porque se um dia resolver ir embora, espero que olhe através dela e me dirija um adeus.

Dizem que está feliz. Mas quem disse que perguntei alguma coisa? Dizem que está com outra e eu quis saber mais. Já não frequenta os lugares que costumava nem mesmo continuou com as antigas amizades. Soube que deixou a barba crescer e lembro como antes não passava uma semana sem fazê-la. O curso de Direito, largou no quarto semestre e está no último semestre de alguma dessas Engenharias. Só que você nunca gostou de exatas, foi a primeira coisa que te perguntei na aula de matemática do terceiro ano. Agora é justamente o oposto. Por que razão?

Nossas mães ainda continuam se encontrando em reuniões e jantares. Para elas, as coisas continuam as mesmas. Toda vez que encontro alguém trazendo uma novidade sua, pergunto-me de onde conheço o homem sobre quem falam. Não pode ser você, não é aquele com quem compartilhei sonhos e segredos cinco anos atrás, mas também não era aquele que eu costumava ter longe de mim e olha só como estamos agora. Mesmo quando te vi na fila do supermercado olhando para o relógio e preocupado em não se atrasar, com apenas duas pessoas entre nós, jamais senti uma distância tão grande. Torci para que continuasse olhando pra frente, sem se mexer. Perceber que isso seria mais fácil do que eu imaginava fez um nó se formar em minha garganta.

Agora entendo o que quis dizer sobre se mudar para outro país. Somos como estrangeiros no território um do outro. Não entendo mais a sua língua, seus costumes mudaram, sua cultura não é mais aquela que estudei por tanto tempo. Seu passaporte na minha vida era falso, um imigrante ilegal, mas eu te deixei viver uma aventura no Novo Mundo. Até que ele se desfez. Foi aí que eu aprendi, as pessoas vão embora a qualquer momento, quando desejarem e isso nem sempre significa que dirão adeus. Nem adianta esperar na janela.


2 comentários:

  1. Que parágrafo perfeito esse último... Amei o texto! As pessoas realmente mudam muito e se tornam desconhecidas para nós depois de algum tempo. Isso é ruim, mas nós também nos tornamos desconhecidas para elas. Nós também mudamos. E cada um segue um rumo... A vida é um constante encontro e desencontro. Só que nos apegamos demais e achamos que vai ser sempre daquela forma, esquecemos que tudo muda muito rápido hoje em dia. Principalmente nós mesmos.
    Super parabéns pelo conto! :)
    Beijos!

    Anna Oliveira
    Primeiros Esboços

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    Respostas
    1. Linnnda! <33
      Obrigada pelos comentários, fico tãão contente em lê-los!

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