“Índios” é uma
das minhas músicas preferidas do Legião Urbana e a escolhida para o
post Desmetaforizando da vez. Escolhi apenas algumas estrofes porque
a música é muito grande e daria assunto para mais de um post.
Dia 03 de Maio estreia “Somos tão jovens” nos cinemas. |
Dá para perceber a Legião Urbana ao compor essa música estava movido por um daqueles momentos de
descrença que todos nós já experimentamos um dia. Aqueles que
ficamos temporariamente desacreditados na existência da amizade
verdadeira porque alguém traiu nossa confiança; temporariamente
desacreditados no amor porque saímos com o coração despedaçado do
último relacionamento e desacreditados do mundo com tanta maldade e
egoísmo dos seres humanos.
“Índios”
representa, não a descrição dos nativos que Cabral e sua navegação
encontraram e se relacionaram ao pisaram em terras
brasileiras, mas nossa relação com eles, enquanto seres ingênuos
que somos e como eles eram vistos. “Índios” representa a nossa
condição de enganados, usado pelo outro que busca, antes de
qualquer coisa, servir aos seus interesses.
Quase todos os versos
começam com “Quem me dera ao menos uma vez...” que carrega um
sentimento de incapacidade para reagir diante de algo que parece ser
maior e mais forte do que nós e mudá-lo. “Quem me dera” ter a oportunidade, mas não tenho, é algo que está além do
meu alcance e fico aqui “sangrando”, remoendo porque quando a
gente passa por maus bocados é difícil acreditar que as coisas se
tornarão mais fáceis e simples.
Quem me dera ao menos uma vez
Ter de volta todo o ouro que entreguei a quem
Conseguiu me convencer que era prova de amizade
Se alguém levasse embora até o que eu não tinha.
Imagine só: damos o
melhor que temos, o nosso “ouro” para alguém, seja ele um amigo
ou um amor, em nome do relacionamento e, de repente, isso já não é
mais suficiente. Não temos mais nada, mas ela continua querendo
tirar mais e mais. Quando vemos, não sobrou sequer quantidade
suficiente de amor próprio e quem nos dera ter tudo de volta. “O ouro brasileiro
deixou buracos no Brasil, templos em Portugal e fábricas na
Inglaterra.” (Eduardo Galeno).
Foi o que essas pessoas fizeram: deixaram buracos em nós enquanto construíam templos
dentro delas.
Quem me dera ao menos uma vez
Esquecer que acreditei que era por brincadeira
Que se cortava sempre um pano-de-chão
De linho nobre e pura seda.
Quem nunca ouviu que
quem tem muito, quer sempre mais. Pois é. Muito não é o suficiente
e dai volta a ideia do “tirar” da primeira estrofe. A pessoa
deseja aumentar suas riquezas e tirar do outro, passar por cima dele,
é uma forma de fazer isso. O jeito mais fácil e mesquinho.
Quem me dera ao menos uma vez
Ter de volta todo o ouro que entreguei a quem
Conseguiu me convencer que era prova de amizade
Se alguém levasse embora até o que eu não tinha.
Quantas vezes as coisas
mais simples são deixadas em segundo plano? São subestimadas? Mas
com o passar dos dias percebemos que são elas que fazem diferença
em nossas vidas e essa busca implacável por “riquezas”, nos
deixa doentes, pela falta do que é realmente importante. O mundo
adoece aos poucos.
Quem me dera ao menos uma vez
Acreditar por um instante em tudo que existe
E acreditar que o mundo é perfeito
E que todas as pessoas são felizes.
As coisas não seriam
mais fáceis se acreditássemos que não há maldade nem tristeza no
mundo e que podemos confiar de olhos fechados nas pessoas? Com
certeza! Mas pensar assim é utopia, a miséria humana está bem
debaixo do nosso nariz.
Quem me dera ao menos uma vez
Fazer com que o mundo saiba que seu nome
Está em tudo e mesmo assim
Ninguém lhe diz ao menos, obrigado.
Às vezes fazemos muito
pelas pessoas e pelo que existe ao nosso redor, construímos pontes e
asfaltamos estradas – no sentido figurado, especialmente - , mas
ninguém ao menos reconhece. Ninguém diz ao menos obrigado a quem
está por trás disso. Um exemplo disso são as tribos indígenas
atuais e a relação das autoridades diante dos direitos delas sobre
suas reservas. Eles são a origem de nós e de tudo o que nos ronda.
Eles cuidam da terra e da natureza, enquanto os engravatados estão
no Congresso descuidando do dinheiro público.
Quem me dera ao menos uma vez
Como a mais bela tribo
Dos mais belos índios
Não ser atacado por ser inocente.
Aqui explicita um pouco
mais a ideia do noema da música. As pessoas se aproveitarão da
nossa inocência, como “a mais bela tribo dos mais belos índios”
seremos atacados e descobriremos que somos ingênuos demais para esse
mundo em que vivemos. Queremos paz enquanto eles querem guerra.
O que acharam? Qual a interpretação de vocês? Sentiram falta de algum outro parágrafo?
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