Aos dezoito

 

É verdade o que dizem sobre quando se completa dezoito anos. Você sente que, a partir daquele momento, o mundo passa a te pertencer e é capaz de enfrentar todos os riscos se no final estiver no lugar em que deseja estar, sendo quem deseja ser. Aos dezoito anos você sente surgir uma vontade ainda mais indomável de viver, como se suas esperanças e forças fossem renovadas. E são. A liberdade espalha-se mandando impulsos elétricos por todo o corpo, o seu sussurro agora transformado em gritos te faz ouvir o que antes era silêncio. Tudo bem que de fato você não ganhou cem por cento de liberdade como imaginava e a maioria das coisas continuam exatamente as mesmas. Quero dizer, ás vezes não importa se você acabou de fazer dezoito anos, especialmente se for uma garota. Aqueles planos de independência pareciam tão desafiadores no trailer que passou em sua cabeça e você disse a si mesma que teria garra o suficiente para fazer valer suas escolhas. Sua vida, suas escolhas - simples, mas nem tanto. Não importa, a ordem é arriscar.

A vontade que se tem é de sair por aí experimentando diferentes sensações e desafiando-se, testando a versão 2.0 de si mesma. É tempo de começar a  se importar menos, porque aos dezoito anos você não promete que tudo passará a ser diferente e que não irá se importar tanto com o que os outros dizem, mas passa realmente a fazê-lo. Graças a versão atualizada que promete incorporar essa nova característica com naturalidade e eficiência em seu dia-a-dia. O colégio já acabou e você passou com uma ótima média nesse curso preparatório da vida. A saudade vai bater, mesmo que você tenha passado por maus bocados naquela sala, engolindo o que diziam calada e esboçando um sorriso, buscando fazê-lo durar o quanto podia ou pelo menos enquanto acreditava que podia. É, você vai dar graças á Deus que chegou ao fim, vai vibrar e vai deixar um cisco cair no olho enquanto vê as fotos de um tempo não muito distante, mas que não te pertence mais.

Você vai relembrar dos quinze e pensar que talvez só se saiba realmente o que é a vida depois deles, porque quando se tem quinze anos é difícil duvidar de alguma coisa, você pensa que já sabe de tudo, que já conhece o bastante, mas você não sabe quase nada. Talvez só se saiba mesmo o que é a vida depois dos dezoito, você vai para faculdade, começará a trabalhar pra ter seu próprio dinheiro, conhecerá mais alguns caras e perceberá quão grande o mundo é.  Talvez tudo mude mesmo aos vinte e...Ah, chega! Quero o agora, tenho apenas dezoito anos, one step at time. Não há classificação para lutar pelo que se deseja. Alguém pode acabar saindo machucado, mas precisamos ter certeza de que não estamos machucando a pessoa errada. Se os seus olhos brilharem e o coração vibrar a cada passo que der, saberá que está no caminho certo.

Claro que importa o que já foi. Claro que importa os quinze, os dezesseis, os quatro, os dez anos. Você é a soma e o resultado de todos eles hoje. Claro que importa o que será aos vinte e quatro, aos quarenta e aos setenta anos. Você será todas as expectativas e metas que realizou, assim como as vezes em que não ganhou. O amanhã será aquela tela que buscou pintar com cuidado e não arriscou usar uma cor qualquer, substituir por outra, só porque acabou esgotando a que queria. Foi atrás, procurou e encontrou o tom o mais próximo do perfeito. Todo dia você pinta mais um pouco, busca novas cores e tons. Então, você fixa os olhos ao que há na sua frente, não atrás, para aquele quadro pendurado na parede da memória, orgulhoso pelo trabalho que fizera até ali e tudo o mais que deseja realizar lá na frente.



Um dos muitos textos meus aos dezoito anos, com carinho.