Um novo dia 12 de Outubro

  Foi ontem. Ou parece. Pelo menos é o que nossas mães dizem e ,pensando bem, não faz mesmo muito tempo que ir ao parque de diversões parecia ser a melhor coisa do mundo. Mas aí vieram os hormônios e junto com eles a vontade de ser gente grande, não precisar mais das mãos de um adulto para atravessar a rua nem horário para ir pra cama. As tardes  na rua andando de bicicleta, pulando corda, jogando futebol ou em casa brincando de boneca e vídeo game foram trocadas por paixões, festinhas e todas aquelas transformações no corpo que nos deixaram confusos. A hora do recreio virou intervalo e a lancheira foi trocada por uma fichinha de R$2,50.
   Descobriu-se que estar apaixonado não é tão fácil como parece nos filmes, é inevitável se decepcionar. Os relacionamentos não vem com instruções, contraindicação ou efeitos colaterais. É preciso estar disposto a enfrentar uma montanha russa de sentimentos. De segunda a segunda você precisa provar algo a alguém, se justificar, aceitar rótulos que te deram ou lutar contra eles para defender sua liberdade de ser.
   Á medida que crescemos parece que nossos pais não nos entendem, mas Renato Russo estava certo: somos nós que não entendemos nossos pais. A doce garotinha está crescendo rápido demais, o seu garoto pensa que é um homem e e eles já não lhe ouvem como antes. Bom seria poder voltar ao tempo em questionar ou contestar algo era sinônimo de rebeldia. Bom o tempo que eram eles que escolhiam e diziam o que era melhor para nós. Faz muito tempo que não engatinhamos mais, nossos passos estão cada vez mais firmes no chão.
  É tão bom ser adolescente, crescer e passar por todas as experiências que isso resulta, mas meia volta a gente acaba desejando ser criança outra vez. Era mais fácil, mais simples, mais puro. Havia aquele olhar mais ingênuo de quem pouco conhece a maldade e os sentimentos ruins, de quem achava que podia mudar o mundo - e esquece que ainda pode -, tinha um milhão de sonhos e sabia o que queria ser quando crescesse.
  Ninguém deixa de ser criança. Ela ainda existe em todos nós, adolescentes, adultos ou idosos, meio calada, talvez adormecida ou ainda gritante e continuará existindo daqui a trinta anos. Permita as lembranças virem á tona, resgate a pureza dos gestos e do coração, enfrente o bicho-papão que ainda existe e aparece á luz do dia, sorria só por sorrir, igual as crianças que vê brincando por aí, pra fazer da vida um novo dia 12 de Outubro.